JOVENS POR UM MUNDO UNIDO

JOVENS POR UM MUNDO UNIDO
Movimento dos Focolares

Nós Jovens por um Mundo Unido nos empenhamos, onde vivemos, estudamos, trabalhamos, para responder às necessidades de pessoas e de grupos iniciando atividades e obras no campo social, da cultura, do esporte, da mídia. Procuramos atingir o objetivo de criar, por toda parte “fragmentos de fraternidade”, para chegar ao mundo unido, à paz!

quinta-feira, 12 de maio de 2011

EdC - Uma história de desafios


Paquistão, Uruguai, Eslovênia, Madagascar, Tailândia, Alemanha… é extensa e diversificada a lista de países em que estão presentes empresas que aderiram ao projeto Economia de Comunhão ao longo de seus 20 anos de vida, completados neste mês de maio. Sinal de que era universal a intuição que Chi-ara Lubich teve em um contexto muito específico: a rica-pobre São Paulo, com suas evidentes desigual-dades. Como não se impressionar com a “coroa de espinhos” que as intermináveis favelas formavam em torno de uma metrópole pródiga de imponentes arranha-céus? Era urgente um modo novo de enca-rar a economia que aproximasse lucros e promoção humana e se fundamentasse em uma cultura da partilha.


Surgia, então, uma “experiência profética” que ficaria conhecida como Economia de Comunhão. Um projeto que, com quase 800 empresas no mundo todo, tornou-se hoje “fermento na massa”, a ponto de inserir e solidificar, nos universos acadêmico e intelectual, categorias novas como a gratuidade e a reci-procidade; nas palavras de um de seus principais estudiosos, o economista italiano Luigino Bruni (ver entrevista na p. 22), uma realidade que já é “patrimônio da humanidade”, como evidenciam as referên-cias presentes na encíclica Caritas in Veritate, publicada em 2009 pelo papa Bento XVI.



Quando Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, aterrissou no Brasil, em 1991, en-controu um país em recessão econômica, palco de grande efervescência social: Igreja e sociedade civil mobilizavam-se por prosperidade e justiça. Dois anos antes, com o Muro de Berlim desmoronara o sistema comunista. Mas, para Chiara, que em 1990 vira de perto a opulência de Nova York, um outro mu-ro ainda deveria cair: o do consumismo.



Foi nesse contexto que, durante um evento no centro nacional de formação dos Focolares, no dia 29 de maio, a então Mariápolis Araceli (atualmente Mariápolis Ginetta), na cidade de Vargem Grande Pau-lista, Chiara anunciou seu projeto: “Aqui deveriam surgir empresas cujos lucros fossem livremente co-locados em comum, com o mesmo objetivo das comunidades cristãs: antes de tudo para ajudar aqueles que mais precisam, oferecer-lhes trabalho, de modo que não exista mais nenhum indigente. Além disso, os lucros serviriam para desenvolver a própria empresa e para formar homens novos: sem homens no-vos não se faz uma sociedade nova”. A simples tripartição dos lucros proposta por Chiara dava uma clara indicação: não era possível construir uma economia nova sem integrar empresas, pobres e cultura de comunhão. Definia-se, assim, aquilo que Bruni costuma chamar a célula-tronco da EdC, o seu DNA.
A adesão dos presentes foi imediata. Entre eles estavam Luiz Carlos Moraes Santos e Margarida J. Iazzeti Santos. “Estávamos na sala quando Chiara lançou essa novidade que ficou conhecida como a ‘bomba’. Nós tínhamos uma granja em Salto, no interior de São Paulo, e logo em seguida aderimos à EdC. Assim que se formou a comissão central, começamos a mandar parte do lucro para lá”, conta Margarida. Em 1995, o casal conheceu François Neveux, um empreendedor e inventor francês que, assim como eles, fora um dos primeiros a aderir à proposta.



“François amava a humanidade” – recorda Françoise, a esposa dele – “já no seu primeiro emprego, como responsável de setor de uma indústria, indignava-se pelas más condições de trabalho e baixos salários dos trabalhadores. Quando posteriormente abriu suas próprias empresas, procurava estar sem-pre muito próximo aos operários, seja pelo modo de se vestir como pelo modo paritário de agir com todos. A ponto de, certa vez, um fornecedor perguntar a ele onde poderia encontrar o patrão. Quando conheceu a EdC foi tomado por um entusiasmo enorme”.



Quatro anos depois do nascimento do projeto, François podia finalmente realizar o sonho de colocar suas tecnologias gratuitamente a serviço da EdC no Brasil. Inaugura, então, em Cotia (SP), uma indús-tria produtora de grandes equipamentos de plástico, cuja administração confiou ao empresário José Becca. A Luiz Carlos e Margarida, que até então haviam sempre trabalhado no setor agropecuário, Ne-veux propôs a criação de uma empresa de reciclagem de polietileno que pudesse fornecer matéria-prima para a sua indústria.
Atualmente, Luiz Carlos e Margarida dedicam-se exclusivamente à empresa de reciclagem. Para a-lém da tripartição do lucro, Luiz Carlos e Margarida evidenciam a nova cultura econômica com que sempre procuraram conduzir suas empresas. “Buscamos, em primeiro lugar, a verdade e a justiça. Pro-curamos ser justos com os funcionários, clientes e fornecedores, ser justos com o meio ambiente. Ou seja, o homem é mais importante que o negócio. Não procuramos o lucro a qualquer preço. E sentimos o retorno disso. Muitos dizem que somos uma empresa muito séria, confiável, temos muito crédito no mercado”, conta Luiz Carlos.
É o que dá forças para enfrentar as grandes dificuldades financeiras. “Seis anos atrás, a nossa lucra-tividade chegava a 18% do faturamento. Hoje está em 4%, porque aumentaram muito os custos de pro-dução, energia, transporte, mão de obra, mas não podemos aumentar os preços, porque concorremos com produtos importados, cujos impostos são menores que os nossos. Dez anos atrás, o nosso ponto de equilíbrio (em economia, ponto em que custos e faturamento se igualam) era de 40 toneladas por mês, hoje tem de ser 120 toneladas por mês e nem sempre conseguimos vender isso”.


Superando novas fronteiras


Ao longo de seus primeiros 20 anos de existência, a Economia de Comunhão difundiu-se por diversos países, sobretudo por meio das comunidades do Movimento dos Focolares espalhadas pelo globo. Atualmente, seu quadro de adesões contabiliza 797 empresas, a maioria delas com sede no Brasil e na Itália. Lentamente, o projeto começa a difundir-se também na Ásia, na África e na Oceania.
No continente africano, a EdC ainda dá seus primeiros passos. Conta com apenas seis empresas, de acordo com informações divulgadas no último relatório anual da organização, referente ao ano de 2010. O empresário Roland Molenzi, dono de uma empresa que organiza safáris e aluga carros em Uganda, ressalta que a Economia de Comunhão representa uma possibilidade de mudança social real em países marcados por grandes disparidades sociais. “Na África não existe realmente a mentalidade empresarial de que o princípio da comunhão poderia ser posto em prática por pes-soas do mundo dos negócios”, enfatiza.
No mundo todo, empresas que ajudam os pobres ou contribuem com projetos sociais não são raras e no continente africano a realidade não é diferente. A diferença da EdC em relação a essas companhias, na visão do empresário ugandês, é que “a maioria delas destinam uma parte insignificante de seus lu-cros para a responsabilidade social, geralmente para melhorar sua imagem diante do público, ou seja, com o objetivo de enriquecer ainda mais. A ajuda enviada, em muitos casos, mantém os pobres em uma constante condição de necessidade”, destaca.



 “Os negócios da Edc têm como objetivo criar emprego e envolver concretamente os pobres na pro-dução de bens, para tirá-los da pobreza. Essa é uma excelente prática empresarial”, ressalta Molenzi. Na sua opinião, a experiência iniciada em 1991 serve de modelo a ser exportado aos países de seu conti-nente. “Eu acompanhei de perto o boom da Economia de Comunhão durante a década de 1990 e sempre ouvi relatos sobre como isso ajudou a transformar a realidade local no Brasil. Como eu gostaria que pudesse acontecer o mesmo em toda a África!”, diz.



Nos Estados Unidos, um contexto cultural e social completamente diferente do de Uganda, a EdC tenta aprofundar suas raízes e propor uma nova cultura empresarial. John Mundell é dono de uma das 25 empresas norte-americanas que aderiram ao projeto. Ele e sua mulher administram uma consultoria ambiental e decidiram aderir ao projeto a partir da inspiração de Chiara Lubich, em sua visita ao Brasil. “Eu tinha um ótimo trabalho em uma das maiores empresas de consultoria em meio ambiente dos Esta-dos Unidos. Mas ali os esforços se concentravam em duas coisas: ganhar dinheiro e crescer”, afirma o empresário. Foi então que Mundell decidiu abrir seu próprio negócio, fundado com base nos princípios que regem a Economia de Comunhão.



O empresário considera que tais valores não são necessariamente obstáculos ao desenvolvimento de uma empresa, mas, ao contrário, podem torná-la inclusive mais eficiente. “Evidenciar a importância de se estabelecerem relacionamentos verdadeiros nos âmbitos interno e externo da empresa é uma espécie de arma secreta. É uma forma de capital que muitas vezes não é considerada com a devida atenção nos ambientes de trabalho. Isso nos dá aquele ‘algo a mais’ que alguns clientes realmente querem”, explica o consultor ambiental.
Ele realça também a necessidade de se estabelecerem novos paradigmas de profissionalismo que va-lorizem não só a capacidade do funcionário e a sua disponibilidade para trabalhar como se fosse uma máquina. “Alguns deles querem ter um ótimo desempenho para chegar ao topo. Isso é algo positivo, mas algumas vezes pode ser uma dificuldade para construir comunhão com outros trabalhadores da empresa. A importância do grupo em relação ao indivíduo precisa ser enfatizada e recompensada”, ava-lia. Apesar de ainda dar os primeiros passos no país, a EdC tem ganhado visibilidade na imprensa norte-americana, sobretudo depois da publicação da encíclica Caritas in Veritate, de Bento XVI. Desde então a EdC foi pauta de reportagens de veículos como o Wall Street Journal.



Na Itália, país onde a EdC encontrou uma adesão mais rápida por parte de empresários de diversos setores, contando hoje com 242 empresas, a mudança de mentalidade proposta pelo projeto é ressaltada por funcionários de organizações associadas à iniciativa. O chefe de departamento de uma dessas fábri-cas italianas, Massimo de Blasio, realça que “as empresas de EdC dizem não à exploração da mão de obra e dão atenção especial à ecologia e ao mundo que as circun-da”. O funcionário reconhece a difi-culdade de penetração no âmbito empresarial de uma cultura que privilegie a partilha ao invés do acú-mulo. “Mas vendo quantas empresas acreditam nisso, e a partir da minha própria experiência, tenho certeza de que a sociedade poderá mudar”, destaca ele.

Cidades sobre o monte


Os polos empresariais ocupam uma posição privilegiada na Economia de Comunhão, pois têm a função de acolher empresas que sirvam de modelo de gestão para o restante das instituições que aderem ao projeto em todo o mundo. São sempre construídos nas proximidades de Mariápolis permanentes (cida-des-testemunhos do Movimento dos Focolares onde os habitantes optam por um estilo de vida baseado no amor recíproco). Atualmente, existem sete polos constituídos no Brasil, na Itália, na Bélgica, na Croácia, na Argentina e em Portugal.
O Polo Spartaco foi o primeiro deles, aberto em 1994, em Cotia, na grande São Paulo. Atualmente, o complexo abrange sete empresas de diferentes setores industriais, que vão desde produtos de limpeza até a distribuição de medicamentos. Uma Sociedade Anônima dedica-se exclusivamente à manutenção e ao desenvolvimento do Polo Spartaco: a Espri, que  conta com 3.500 acionistas, em sua maioria pe-quenos e médios empresários de diversas partes do Brasil. A existência de espaços comuns como os polos, em que as empresas possam conviver e estabelecer dinâmicas de reciprocidade, respon-de a uma exigência fundamental da EdC.



Membro do conselho de administração da Espri, Olavo Freitas conta que as fábricas instaladas no complexo economizam com compras coletivas de bens e serviços, por exemplo. Com isso, custos com segurança são reduzidos de forma substancial. Os polos também oferecem a oportunidade de uma mu-dança de mentalidade e de relação entre os trabalhado-res e seus chefes e até mesmo entre os funcionários das diversas empresas instaladas no local. “Os espaços comuns de convivência, lazer e treinamento dão a eles uma qualidade excelente de trabalho e relacionamentos”, destaca Freitas. Desta forma, o pro-jeto propõe novos mecanismos de promoção da justiça social também no que concerne à hierarquia das empresas.



Mas a experiência de comunhão no campo empresarial não se restringe a negócios de sucesso admi-nistrativo. Nos últimos anos, a EdC tem se deparado também com falências de empresas do projeto. A experiência acumulada nas suas duas décadas de existência é essencial na gestão de situações do gêne-ro. Há dois anos, uma confecção de roupas pioneira no Polo Spartaco fechou. “Com a comunhão entre os empresários, incluindo troca de experiências e ajuda fi-nanceira, foi possível encerrar as atividades sem as consequências de uma tradicional falência, tanto para os sócios da empresa quanto para seus empregados”, explica Freitas.
Nesse sentido, a experiência empresarial promovida nos polos se propõe como ponto de referência para as de-mais organizações. “O nosso projeto é muito importante porque pretende ser um sinal de contradição no mercado e abrir caminho para uma nova economia, a economia da partilha, em contra-posição ao modelo econômico existente marcado apenas pela lógica do acúmulo de lucro”, ressalta ain-da Freitas.



Recentemente, o Polo Spartaco iniciou uma parceria com o Polo Ginetta, localizado em Igarassu (PE). A cooperação visa a implantar no complexo Spartaco uma fábrica de bolsas confeccionadas por jovens de baixa renda da comunidade local. A ideia é reproduzir em Vargem Grande Paulista a experi-ência feita no Nordeste, com jovens ex-moradores de rua da Casa do Menor São Miguel Arcanjo, fun-dada pelo padre Renato Chiera. Desta vez, porém, os trabalhadores são jovens de 15 a 24 anos em situ-ação de “vulnerabilidade social”. 
“Dentro da nossa modesta estrutura, podemos dizer que já somos modelo para outras empresas, por-que existimos desafiando e enfrentando a dura realidade do mercado e buscando atuar todos os princí-pios e valores da EdC, tais como distribuição de renda, responsabilidade social, respeito a questões éti-cas, fiscais e legais”, enfatiza Olavo Frei-tas. Em sinal de incentivo à iniciativa de instalação da confec-cionadora de bolsas no Polo Spartaco, as outras empre-sas do complexo decidiram isentar por três me-ses a nova fábrica das despesas de condomínio e do aluguel.
Para Luigino Bruni, uma das metas dos polos empresariais da EdC é justamente fazer com que a “E-conomia de Comunhão deixe de ser somente um conjunto de empresas que se ajudam e que ajudam os pobres, para se tornar um projeto que vá ao encontro das grandes necessidades da humanidade, que vá ao encontro do outro”.



Jornada Internacional da EdC

O aniversário de 20 anos da Economia de Comunhão será celebrado no dia 29 de maio, com uma Jornada Internacional, no Memorial da América Latina (São Paulo – SP).


As inscrições para participar do evento podem ser feitas no site www.edc-online.org, no qual se en-contram outras informações sobre a Jornada e sobre a EdC.

Um comentário:

  1. Obrigada por essa reportagem @revcidadenova
    Essa Jornada será um grande marco na história da EdC que nos impulsiona a viver com radicalidade a comunhão de bens, ideias e necesidades!

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