Itália: Igreja traça prioridades sociais
Mais de 1200 delegados, vindos de 227 dioceses, debateram situação do país
Política, educação, imigração, trabalho e desenvolvimento –
estes foram os assuntos que dominaram a sessão temática que encerrou a
46ª Semana Social dos Católicos Italianos.
Uma iniciativa que discutiu, entre 14 e 17 de Outubro, “uma agenda de
esperança para o futuro”, e que juntou em Reggio Calábria mais de 1200
delegados, vindos das 227 dioceses italianas.
Durante a eucaristia que abriu o último dia do evento, o arcebispo de
Reggio Calábria deixou a “certeza inexorável de que qualquer obstáculo
ao bem – ao progresso, à justiça, à legalidade, ao desenvolvimento das
ideias – deve ser combatido pela sociedade com os recursos que lhe são
próprios, com a Constituição e as leis civis”.
Mas a verdadeira vitória, sublinhou D. Vittorio Mondello, só poderá
vir “através da oração, da alegria e da coragem da fé”, dando o mote
para uma discussão assente em matérias “terrenas”, mas que nunca deixou
de ter presente os ideais orientadores de Cristo.
Lucia Fronza Crepaz, do Movimento para a Unidade dos Focolares, foi
quem lançou o debate no plano político, defendendo a urgência de
“completar a transição política e institucional sem deixar ninguém de
fora, nem os pobres, nem os jovens ou os menos qualificados”.
Coordenando o painel intitulado “Completar a Transição”, Crepaz
manifestou-se esperançado de que será possível “dar aos eleitores
hipóteses reais, na escolha de uma direcção política e na influência
sobre quem governa, de acordo com os princípios da verdadeira
democracia”.
Em declarações reproduzidas pelo jornal católico “Avvenire”, o mesmo
responsável lembrou ainda que “a limitação do número de mandatos, e a
inelegibilidade daqueles que têm problemas com a justiça, podem trazer
ao esforço político uma maior gratuitidade”.
No painel “Cuidar do desenvolvimento social”, Franco Miano,
presidente da Acção Católica Italiana, falou sobre a necessidade de se
“promover um modelo de desenvolvimento social que combine crescimento
com solidariedade”.
Entre os diversos contributos que foram prestados pelos elementos que
participavam neste painel, destaque para uma opinião que considerou “a
Universidade como a ferramenta decisiva para a promoção do
desenvolvimento social, a partir da realidade local". Uma ideia que
permitiu chegar à conclusão de que “é preciso repensar o sistema
educativo italiano, aumentando o elo entre as universidades e as
escolas”, permitindo encurtar, por exemplo, as distâncias entre a
comunidade escolar e o mundo do trabalho.
Ainda na área da educação, destaque para a intervenção de Paola
Stroppiana, presidente do Comité Nacional da Associação Católica dos
Guias e Escuteiros de Itália (AGESCI), para quem é necessário mudar a
face da educação católica, dando-lhe maior preponderância na formação
das crianças e jovens, apoiando o trabalho das famílias.
Uma mudança que deve ser visível, desde logo, nos responsáveis
educativos da Igreja: “Pessoas sólidas, credíveis, fidedignas e
significativas, que possam servir de exemplo para os mais novos e para
os adultos” sublinhou a responsável da AGESCI, na sessão subordinada ao
tema “Educar para o crescimento”.
"Criar oportunidades para encontros" entre as associações eclesiais,
"relançar" as escolas de educação para a política, dar maior importância
aos meios de comunicação como "fontes de educação informal" foram
outros pontos acrescentados pelos participantes, que também pediram para
os jovens "espaços educativos para uma cidadania activa”.
No que diz respeito à imigração, Andrea Olivero, presidente nacional
da Associação Italiana dos Trabalhadores Cristãos (ACLI), falou sobre a
urgência de alterar a lei sobre a cidadania.
"O medo, a rejeição e o preconceito, relativos a quem vem de fora,
são ideias que não podem subsistir na comunidade eclesial”, defendeu o
líder da ACLI, sublinhado que todos os cristãos, “através de seus
pastores, são chamados a ser portadores de boas vindas e de ideais de
respeito e de partilha”.
Recordando as palavras
de Bento XVI, Andrea Olivero considerou que “o reconhecimento da
dignidade da vida do migrante é a imagem explícita de um valor não
negociável e uma premissa indispensável para a construção do bem comum”.
Num painel intitulado “Incluir quem vem de novo”, o presidente da
ACLI recordou ainda “as mais de 600 000 crianças nascidas em Itália,
filhas de imigrantes”, considerando ser vital “reduzir a burocracia
perigosa e excessiva do poder discricionário".
Defendendo um novo modelo de inclusão, Olivero propôs ainda o
alargamento dos direitos dos imigrantes em matérias como “o voto, pelo
menos nas eleições locais, o serviço civil, a participação na Igreja e
nos grupos de jovens”.
|
0 comentários:
Postar um comentário