JOVENS POR UM MUNDO UNIDO

JOVENS POR UM MUNDO UNIDO
Movimento dos Focolares

Nós Jovens por um Mundo Unido nos empenhamos, onde vivemos, estudamos, trabalhamos, para responder às necessidades de pessoas e de grupos iniciando atividades e obras no campo social, da cultura, do esporte, da mídia. Procuramos atingir o objetivo de criar, por toda parte “fragmentos de fraternidade”, para chegar ao mundo unido, à paz!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Bem-aventurada Chiara Badano (29 de outubro de 1971 – 7 de outubro de 1990)

Bem-aventurada Chiara Badano (29 de outubro de 1971 – 7 de outubro de 1990)

Homilia para a Beatificação1 Ângelo Amato, SDB 1.

Não poderia existir lugar mais adequado para a beatificação de Chiara Badano que o Santuário do Divino Amor, aquele amor divino, que arrebatou totalmente o seu coração tão jovem e amante da vida. Todo santuário mariano é a casa de Maria, e Chiara – como todos nós – se sente bem na casa da Mãe celeste. Todo santuário mariano é também uma espécie de antecâmara do céu, pois abre a mente e o coração para o encontro com Jesus, com Maria, a mãe do Divino Amor, e com todos os anjos e santos do céu. Lembremo-nos de que a nossa Beata expirou justamente no dia da festa de Nossa Senhora do Rosário, dia 7 de outubro de 1990, sussurrando à sua mãe terrena: “Adeus, esteja feliz, porque eu o sou”.
No Paraíso, a casa de Deus Amor, a Bem-aventurada Virgem Maria esperava de braços abertos esta sua filha dileta, que tanto amava o seu Jesus e que tanto tinha sofrido em união com o Crucificado Abandonado. Maria a apertou fortemente contra o seu peito materno. Era mesmo este o desejo de Chiara: “Quando morrer, não sofrerei mais, irei para o céu e verei Jesus e Nossa Senhora”2. No paraíso, também Jesus, o esposo celeste de Chiara, a saudou com as palavras de amor do Cântico dos Cânticos: “Fala o meu amado e me diz: „Levanta-te minha amada, formosa minha e vem a mim! Vê o inverno: já passou! Olha a chuva: já se foi! As flores florescem na terra, o tempo da poda vem vindo, e o canto da rola está se ouvindo em nosso campo. Despontam figos na figueira e a vinha florida exala perfume. Levanta-te, minha amada, formosa minha, vem a mim! Pomba minha, que se aninha nos vãos do rochedo, pela fenda dos barrancos... Deixa-me ver tua face, deixa-me ouvir tua voz, pois tua face é tão formosa e tão doce a tua voz!”
2. A liturgia da Palavra de hoje descreve bem o retrato espiritual de Chiara, jovem de coração cristalino como a água da nascente, que encontra refúgio e consolação em Deus: “Digo a Deus: „Sois o meu Senhor, fora de vós não há felicidade para mim.
1 Homilia para a beatificação da Serva de Deus Chiara Badano, realizada em Roma no Santuário do Divino Amor, no dia 25 de setembro de 2010. 2 Positio vol. I, Summarium, p. 98….
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Senhor, vós sois a minha parte de herança e meu cálice; vós tendes nas mãos o meu destino. Ponho sempre o Senhor diante dos olhos, pois ele está à minha direita; não vacilarei. Por isso meu coração se alegra e minha alma exulta, até meu corpo descansará seguro, porque vós não abandonareis minha alma na habitação dos mortos”. (Sal.16,2-1.5.8-10). Chiara via Deus e o mostrava nesta terra, mediante a caridade que ela tinha para com o próximo: “Caríssimos – admoesta S. João, o evangelista da caridade - amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor [...].. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito. (1 Jo. 4,7.12). Chiara viveu ao pé da letra a palavra que Jesus nos dirigiu no Evangelho de hoje: “Permanecei no meu amor [...]. Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa”. (Jo. 15,-9.11). Os dias da existência terrena de Chiara foram dias de caridade distribuída com mãos abertas. A vida que humanamente foi uma dolorosa subida ao Calvário, pela sua grande caridade se tornou uma luminosa transfiguração como num Tabor. Ela mudou a dor em alegria, as trevas em luz, dando significado e sabor também ao sofrimento do seu corpo débil. Na doença, ela se revelou uma mulher forte e sapiente: “Vós sois o sal da terra e a luz do mundo”. (Mat. 5, 13.14). 3. Caríssimos, escutamos com edificação a leitura da biografia de Chiara, de resto já bem conhecida pela maior parte de vocês. Aproximemo-nos um pouco mais do seu retrato, que está diante de nós e paremos a contemplá-lo.
O vestido nupcial, com o qual Chiara foi ao encontro do Senhor Jesus, estava enriquecido pelos sete diamantes da espiritualidade cristã e focolarina: Deus Amor; fazer a vontade de Deus; Palavra de Vida vivida; amor para com o próximo; amor recíproco que realiza a unidade; presença de Jesus na unidade. Mas há um sétimo diamante, o mais precioso, que brilha mais do que os outros, é o amor a Jesus Crucificado e Abandonado. Este – afirma Chiara Lubich, a fundadora do Movimento dos Focolares – é o ponto principal que resume a espiritualidade focolarina e que a nossa Bem-aventurada interpretou da melhor maneira3.
3 Positio, vol. I, Summarium super virtutibus, p. 440.
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O Amor a Jesus Abandonado lhe infundiu a energia espiritual, a graça capaz de suportar toda a adversidade. Adoecendo aos 16 anos com um osteossarcoma, aceitou a cruz com sofrimento, mas com serena fortaleza. “Não tenho mais as pernas e gostaria muito de andar de bicicleta, mas o Senhor me deu asas”4. Sofria, mas a alma cantava. Rejeitou a morfina porque – dizia – “ me tira a lucidez e eu posso oferecer a Jesus somente a minha dor”. No final de dezembro de 1989, quando a doença a estava devorando, Chiara Lubich lhe deu a Palavra de Vida: “Quem permanece em mim e eu nele, dará muito fruto. (Jo. 15,5). No dia 26 de julho do mesmo ano, a Lubich lhe deu um nome novo, „Luce‟. Nome certíssimo porque Chiara era uma explosão de luz divina, que surpreendia todos, jovens e adultos. Dizia com frequência: “Jesus é para se amar e basta”5. E desde pequena, foi muito generosa no corresponder ao ideal de amor de Deus e do próximo.
As manifestações desta caridade são múltiplas. Irmã Bonária conta que Chiara durante o período da escola primária dava a sua merenda a uma colega pobre. Quando Chiara contou isso à mãe, ela acrescentava todo dia duas merendas. Ainda assim Chiara continuou distribuindo para as crianças pobres, porque nelas via Jesus6. 6
Em Sassello vivia um rapaz, [Cesare Merialdo, já falecido], um pouco doente, que dizia coisas sem nexo, fora do lugar. Quando estava na igreja, cantava em voz alta, desafiando muito e perturbando todos. As pessoas o marginalizavam. Um dia, na Missa da tarde, Cesare estava no banco na frente da mãe de Chiara. De repente se virou e lhe pediu que se sentasse ao seu lado. Mas a mãe não se mexeu. Voltando para casa, a senhora contou o episódio à filha. Chiara ficou séria e perguntou: “Você não se mexeu? Jesus estava no Cesare”. A mãe tranqüilizou a filha: logo em seguida tinha ido se sentar ao lado de Cesare. Este rapaz, quando soube da morte de Chiara, visitou o corpo, tirou o chapéu, lhe beijou os pés e sozinho rezou o terço7.
Com apenas onze anos, toma a decisão de “amar quem me for antipático”8. Quando convidava alguém para almoçar dizia a mãe que colocasse a toalha melhor, “porque hoje Jesus vem nos visitar”9.
4 Informatio Relatoris, p. 2. 5 Chiara Badano nella lettera del 27 novembre 1983 indirizzata a Chiara Lubich. 6 Positio, vol. I p. 60. 7 Summarium, §355. 8 Positio, vol. I p. 56.
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Na cidade havia um certa senhora Maria, uma mulher marginalizada, não considerada por ninguém e nunca ia à igreja. Chiara, a encontrava muitas vezes pela rua, a ajudava a levar os objetos pesados e a chamava „senhora‟ Maria. Quando Maria soube da morte de Chiara, quis ir à igreja. Se vestiu bem, assistiu a Missa e deu como oferta ‘cinqüenta mil liras’, muito para a época10.
Um dia uma amiga perguntou a Chiara: „Com os amigos no café, acontece que você fale de Jesus, que procure passar algo de Deus?‟. “Não, não falo de Deus”. „Porque deixa escapar as ocasiões?‟ E ela: “O mais importante não é falar de Deus. Eu o devo dar”11.
4. Com os seus atos de caridade Chiara mostrava e dava Deus. Com os seus atos de amor a nossa Bem-aventurada encheu a mala para a sua santa viagem. O amor a Jesus é vivido por ela quotidianamente em muitos episódios de caridade. Não são propósitos feitos no ar, mas fatos concretos. A Gianfranco Piccardo, voluntário que estava indo escavar trinta poços de água potável no Benin, entregou a sua poupança, „um milhão e trezentas mil liras‟, presente recebido no seu último aniversário, dizendo: “Não me servem, tenho tudo”12.
No dia de São Valentino em 1990, Chiara, já quase sempre acamada, desejou que a mãe e o pai saíssem naquela noite para jantar. A mãe encontrou a desculpa de que já não dava tempo para reservar um lugar. Chiara pegou a lista telefônica e depois de algumas tentativas, conseguiu reservar um lugar para eles num restaurante de Albissola Marina. Antes que saíssem fez estas recomendações: “Olhem-se nos olhos e não voltem antes de meia-noite”. Pouco antes havia dito a mãe: “Lembre-se, mamãe, que antes de mim existia papai”13. Chiara estava treinando os pais a ficarem sozinhos, sem ela.
Todos os que a visitavam pensavam em lhe levar afeto e consolação, mas na realidade eram eles a receber conforto e encorajamento. Durante a doença doava Jesus, não fazendo pregações, mas difundindo alegria e esperança de vida eterna. O seu apostolado era unir harmoniosamente este vale de lágrimas com a Jerusalém celeste. Uma
9 Positio, vol. I p. 57. 10 Positio, vol. I p. 62. 11 Positio, vol. I p. 58. 12 Positio, vol. I p. 58, 71. 13 Positio, vol. I p. 65-66.
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enfermeira conta que, quando chegava uma visita, pedia que pessoa aguardasse o fim do tratamento. Quando se lhe fazia notar que depois estaria muito cansada, Chiara respondia: “Não faz mal, lá fora, é Jesus quem está esperando”14.
O encontro com Chiara – chega a dizer uma testemunha – dava a “sensação de que se encontrava Deus”1515.
5. Esta jovem, de aparência frágil, na realidade era uma mulher forte. Mesmo no leito de morte fez um último dom, o das córneas ainda transplantáveis, porque não atingidas pelo mal. Foram transplantadas em dois jovens que hoje veem graças a ela16.
Uma testemunha, Ivana Pianta, lembra que Chiara, aos treze anos, fazia parte das gen 3 da Ligúria, e pela sua coerência de vida era por vezes criticada pelas amigas e até mesmo por algum sacerdote. Na pequena cidade onde morava era ridicularizada, porque era uma gen, porque ia à Missa também durante a semana, participava com atenção da aula de religião, procurava amar a todos os professores, mesmo os mais difíceis, era muito disponível para ajudar a todos. Por isso as suas amigas – e as crianças por vezes sabem ser ruinzinhas – a chamavam „freira‟. Isso a fazia sofrer muito, mas na Mariápolis encontrava a resposta Nele, em Jesus Abandonado17.
O coração de Chiara encerrava um amor grande como um oceano. Mesmo doente dizia: “Agora não tenho mais nada sadio. Porém, tenho ainda o coração com o qual posso sempre amar18.
Amava o próximo, amava a Igreja, amava o Papa. Um dia, sua mãe foi à escola onde a filha estudava para conversar com uma professora que, assim que a viu, exclamou: “Na vida, a sua filha será juiz ou advogado”. Voltando para casa, a mãe pediu uma explicação sobre isso. Chiara então lhe explicou que uma professora, que não acreditava em Deus, fala mal do Papa, criticando-o pelas suas inúmeras viagens: “Eu me levantei e lhe disse: „Não concordo com o que a senhora disse‟. E acrescentei que o Papa viaja unicamente para evangelizar o mundo”19.
14 Positio, vol. I, p. 85. 15 Positio, vol. I, p. 87. 16 Positio, vol. I p. 59. 17 Positio, vol. I, p. 91. 18 Positio, vol. I p. 70. 19 Informatio, vol. II, p. 79.
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6. Chiara, como Moisés, estava chegando ao fim da sua santa viagem, tinha alcançado o alto da montanha santa mais elevada, frente a frente com Deus Trindade. Dali irradiava luz e alegria, voltando a entregar ao seu próximo as tábuas da lei, como dez divinas palavras de amor, e as bem-aventuranças de Jesus, para orientar a vida terrena em direção ao sol de Deus.
Não comum, extraordinário, incrível são adjetivos usados pelos médicos que a seguiam para descrever a serenidade e a fortaleza de Chiara diante da doença mortal. É verdade. A sua atitude não era normal, porque completamente sobrenatural, fruto da graça divina, da fé infinita e do heroísmo cheio de virtude. Ela falava do vestido de noiva para o seu funeral, como faria uma jovem que se prepara para o matrimônio. Dizia: “eu não choro, porque estou feliz”. Dizia à mãe: “quando me quiser encontrar, olhe para o céu, me encontrará numa estrelinha”20.
Chiara Lubich, explicando o nome Luce, que havia dado a Chiara, escreveu que, olhando para uma fotografia dela, a jovem “não tinha os olhos da alegria simples e sim algo a mais, direi que a luz do Espírito”2121. 7. Diante desta jovem, a Igreja agradece Deus Trindade pela sua vida de caridade e bondade. Chiara Badano, jovem moderna, esportiva, positiva, nos transmite uma mensagem de otimismo e de esperança. Também hoje, o breve período da juventude, pode ser vivido na santidade. Também hoje existem jovens íntegros, que na família, na escola, na sociedade não desperdiçam a própria vida. A Bem-aventurada Chiara Badano é uma missionária de Jesus, uma apóstola do Evangelho como boa nova para um mundo rico de comodidades, mas muitas vezes doente de tristeza e de infelicidade. Ela nos convida a reencontrarmos o frescor e o entusiasmo da fé. O convite é dirigido a todos: antes de tudo aos jovens, mas também aos adultos, aos consagrados, aos sacerdotes. A todos é dada a graça suficiente para se fazerem santos. Respondamos com alegria a este convite de santidade e agradeçamos ao Santo Padre Bento XVI pelo dom da Beatificação da nossa Chiara Luce. Trata-se de um sinal concreto da confiança e da estima que o Papa tem nos jovens, em quem vê o semblante jovem e santo da Igreja. Amém.
20 Positio, vol. I, p. 57. 21 Positio, vol. I, p. 436.

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