JOVENS POR UM MUNDO UNIDO

JOVENS POR UM MUNDO UNIDO
Movimento dos Focolares

Nós Jovens por um Mundo Unido nos empenhamos, onde vivemos, estudamos, trabalhamos, para responder às necessidades de pessoas e de grupos iniciando atividades e obras no campo social, da cultura, do esporte, da mídia. Procuramos atingir o objetivo de criar, por toda parte “fragmentos de fraternidade”, para chegar ao mundo unido, à paz!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Economia de Comunhão: Revolução silenciosa no nosso tempo

Num período em que a crise económica e o orçamento de Estado estão na ordem do dia, é notícia um novo conceito de economia que tem por objectivo pôr em comum os lucros de uma empresa, com vista a ajudar os pobres, contribuir para a difusão de uma nova cultura e desenvolver a própria empresa.

O conceito surgiu há quase vinte anos no Brasil, pela mão da fundadora do Movimento dos Focolares, Chiara Lubich, numa visita à cidade de São Paulo. Confrontada com o desequilíbrio social de uma cidade que se veste de arranha-céus e de favelas, a fundadora deste movimento que promove a comunhão e a unidade procurou encontrar respostas para os problemas sociais que encontrava. Assim, tendo por base a própria experiência do movimento, e inspirada no que é a Doutrina Social da Igreja proposta pela Encíclica do Papa João Paulo II, Centesimus Annus, Chiara Lubich deixou aos seus membros focolarinos um desafio: “O desafio de que as empresas que existissem ou que se quisessem constituir pudessem operar segundo uma metodologia própria com o objectivo de dar uma utilização tripla aos seus lucros”, como explica à VOZ DA VERDADE Luís Filipe Coelho, economista português e administrador de empresas que acompanha desde o início este sistema económico.
De acordo com a ideia original, os lucros ganhos numa empresa aderente à Economia de Comunhão na Liberdade (EdC) são repartidos por três finalidades: o investimento e desenvolvimento da própria empresa para que esta continue a gerar emprego, a ajuda aos mais pobres e a formação de pessoas capazes de agir segundo aquilo a que no Movimento dos Focolares chamam de «cultura do dar», que nos dias de hoje “é a oposição ao consumismo que marca a sociedade”, referiu aquele economista.
No que se refere à finalidade da ajuda àqueles que mais necessitam, Luís Filipe Coelho faz questão de relevar o facto de que não se trata de uma “lógica assistencialista mas segundo a perspectiva de ajudar a sair das circunstâncias em que as pessoas se encontram, envolvendo-as num processo de partilha”. Assim, “a ideia central deste projecto está naquilo que é o destino a dar aos lucros” de uma empresa, reforça.

Gerir uma empresa centrando-se na pessoa
De acordo com as linhas operativas para a condução de uma empresa segundo a EdC, “os empresários que aderem formulam estratégias, objectivos e planos empresariais, tendo em conta os critérios típicos de uma correcta gestão e envolvendo nesta actividade os membros da equipa. Tomam decisões de investimento com prudência, mas com particular atenção à criação de novas actividades e postos de trabalho produtivos”. Por outro lado, ainda, “os responsáveis da empresa procuram utilizar, o melhor possível, os talentos de cada trabalhador, favorecendo a sua criatividade, a assunção de responsabilidade e a participação na definição e realização de objectivos empresariais”, refere o documento formulado por empresários de todos os continentes.
Para Luís Filipe Coelho, a novidade desta forma de gerir uma empresa encontra-se na “não centralização da actividade da empresa no objectivo do lucro, centrando-se, por isso, na pessoa”. “Isso revoluciona todo o ‘modus operandi’ da empresa, porque centra-se no lado humano que pode ser o colaborador da empresa, o fornecedor ou o cliente. E essa é a verdadeira chave do projecto”, acentua.
Apontando experiências já feitas e consolidadas destas empresas, o economista refere ao nosso jornal que a forma como se cuida destes vários aspectos gerou um “forte envolvimento dos próprios trabalhadores e adesão ao próprio modelo fazendo-se sentir na sua produtividade, criatividade e reforçando a própria motivação”.

Primeiro pólo empresarial vai ser inaugurado em Portugal
Actualmente existem no mundo cerca de 800 empresas que seguem esta linha de gestão empresarial. Mais de 200 encontram-se na América do Sul, 300 na Europa e outras ainda na América do Norte, Ásia, África e Austrália operando, assim, em diversos sectores económicos. Em Portugal já há vários anos que existem empresas que seguem esta mesma cultura ‘do dar’. Ao todo são doze e como forma de mostrar uma economia centralizada na comunhão, não só teoricamente mas também no estilo de vida dos intervenientes, vai ser inaugurado no próximo sábado, dia 6 de Novembro, o primeiro Pólo empresarial EdC em Portugal. Localizado em Abrigada, no concelho de Alenquer, este é um projecto que teve início no ano 2000 com a aquisição de um terreno adjacente à Cidadela do Movimento dos Focolares. Em 2004 iniciou-se a construção do edifício, e em 2005 abriu naquele lugar um Centro de Recursos e Reabilitação Física, financiado durante dois anos pela Segurança Social e pelo Ministério da Saúde com o Programa de apoio integrado a idosos e/ou dependentes (PAII).
Em 2008 instala-se naquele pólo a primeira empresa EdC, e dois anos mais tarde chegam outras duas empresas que permitem, deste modo, a inauguração daquele espaço. Segundo Luís Filipe Coelho, o pólo empresarial tem a vantagem de possibilitar maior proximidade a um conjunto de empresas que opera com estas linhas de orientação. “Tem aquilo que são as sinergias operacionais e motivacionais. Conjuntamente – justifica – as empresas ajudam-se pela partilha de experiências. O que é um elemento de coesão e promove o desenvolvimento”.
Mas se neste pólo se concentram apenas algumas das doze empresas EdC a operar em Portugal, tal “não significa que as restantes sejam excluídas”, alerta o administrador. Porque os pólos “funcionam como ponto de ligação e de referência para as outras empresas que abraçaram este projecto”.

Teoria económica em estudo
O tema da Economia de Comunhão, talvez pelo que traz de novidade ou até mesmo de ousadia tem sido objecto de estudos académicos, dando origem a teses de licenciatura, mestrados e até mesmo doutoramentos, em diversas partes do mundo. O projecto idealizado por Chiara Lubich tem vindo a ser posto em prática, e a experiência realizada tem proporcionado, também, uma reflexão teórica. O professor Luigino Bruni, que vem a Portugal na próxima semana apresentar um livro sobre esta temática (ver caixa), tem vindo a estudar esta matéria, em articulação com outros professores, “à luz da experiência feita pelos empresários”, explica. Luís Filipe Coelho.

Um desafio na actualidade
Diante da actual crise económica que o nosso país atravessa a EdC pode encontrar espaço para um maior desenvolvimento. “Parece não haver espaço para esta economia mas tem de haver!”, reforça Luís Filipe. “Num contexto de crise internacional como este em que vivemos está subjacente, certamente, algum esgotamento do modelo em que a nossa sociedade e a economia estão baseados”, aponta. Por isso, considera que “deve haver espaço para esta economia porque essa será, seguramente, um entre muitos outros sinais de esperança relativamente ao futuro”. A EdC, “poderá vir a trazer alterações profundas na economia, embora isso seja um processo lento, uma revolução silenciosa”.

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Uma experiência concreta em Portugal
António Faria Lopes é sócio de uma empresa em Leiria que produz formas de plástico para calçado e desde há vários anos aderiu a este projecto que considera não ser “um toque de magia”, porque “há imensas dificuldades, quase desilusões e cansaço”, testemunha. “Aí somos todos iguais. Porém há uma grande certeza: as soluções surgem sempre e, arrisco afirmar porque essa é a nossa experiência, surpreendem sempre de forma positiva”. A empresa que António Faria Lopes gere “é resultado de um enorme esforço da sua administração e dos seus colaboradores a fim de continuar a ser um local onde se respire liberdade, criatividade, paz, trabalho, solidariedade, isto é, uma nova cultura”, afirma.  


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Luigino Bruni apresenta livro em português
‘A ferida do outro’ é o título do livro de Luigino Bruni, economista italiano e docente de Economia Política na Universidade Bicocca de Milão que vai ser apresentado na próxima quarta-feira, 3 de Novembro, pelas 18h30, na Universidade Católica, em Lisboa.
A obra publicada em italiano em 2007 vê agora a tradução em língua portuguesa, com a chancela da Editora Cidade Nova, que o próprio autor vai apresentar. Aqui deixamos uma amostra da introdução pelo autor: «Imaginem... uma cidade sem prédios barulhentos nem bairros conflituosos, onde cada família tem a sua própria moradia isolada acusticamente, e protegida da vista dos outros, para que nenhum vizinho a possa incomodar. Onde os poucos arranha-céus existentes foram construídos de modo a evitar qualquer encontro nas escadas ou nos patamares. (…) Onde os meios de comunicação se tornaram tão sofisticados e interactivos que nos fazem sentir, durante todo o dia, que estamos na companhia de muitos, mesmo se passamos cada vez mais horas sozinhos em frente do computador e da televisão. (…) Gostariam de viver numa cidade assim? Espero que sim, porque este cenário estilizado aproxima-se muito da realidade que está a surgir nas cidades que actualmente se imaginam e projectam nas nossas sociedades de mercado. (…) Este livro pretende oferecer algumas explicações sobre a razão pela qual está a surgir um tal cenário e, talvez, dar algumas pistas de reflexão àqueles que (como eu) estão muito preocupados com essa perspectiva. (…)»

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Para saber mais sobre a Economia de Comunhão em Portugal: http://alturl.com/32kkw
Nuno Rosário Fernandes

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